Karla Reis

Karla Reis

terça-feira, 4 de março de 2014

Fevereiro

Fevereiro acabou, ainda bem. 

Como é possível caber tanta angústia num só mês?

Que dias difíceis. Pareciam intermináveis. Ainda tenho a sensação de que algumas horas de alguns dias rastejam lentamente sobre o tempo, mas elas terminam, ora ou outra, e tudo volta a estar sob controle. É tudo sobre controle.

Nesse mês que se foi, finalmente, senti de novo um peso sobre as costas que pensei que não suportaria. "Você precisa crescer sozinha", diria o moço dos olhos verdes; Mas é que é realmente difícil quando você muda seu ângulo e começa a ver a coisa de outra forma. Ou começa a ser vista de outra forma. Precisa ficar de pé e cabeça erguida no meio daqueles que, um a um, pouco a pouco, vão aumentando a pressão que é se manter intacta diante da podridão do ser humano. E você se mantém. Eu me mantive.

É preciso crescer sozinho.

Crescer dói. Não é somente sobre carregar cada vez mais obrigações, cada vez mais longe e cada vez mais sérias. É sobre tudo o que tem no meio do caminho. Sobre a sujeira que acumula, as amizades que cessam, o ceticismo que aumenta. Sobre a fé que  se é que já existiu  se esvai. Sobre saber lavar os próprios pés e a própria mente. Sobre experiências que sempre te mostrarão que, ao mesmo tempo em que dez dedos são demasiados diante da quantidade de amigos que você poderá contar, também são insignificantes diante daqueles que te virarão as costas ou passarão ao seu lado deixando apenas o cheiro podre da indiferença. Estou vivendo num calabouço escuro e sombrio, como de praxe, e só percebi agora.

É preciso crescer sozinho.

Às vezes arrumamos fardos ao longo da vida que precisam ser carregados para sempre. Tudo bem, eu carrego os meus. Sou responsável por todos eles. Por toda a dor, todo o medo e todo o deslize. Não só desse fevereiro que passou, mas de todos os outros meses que me desesperaram quase da mesma forma. Mas uma coisa é pensar e focar nos seus fardos o suficiente para se adaptar e aprender a viver lidando com eles; Outra, é salientar esses fardos, dia a dia, como grandes socos que você ganha no estômago ao acordar. As coisas têm o peso que você permite que elas tenham.

Incapacidade é algo que criamos naturalmente quando pensamos que não somos resistentes o suficiente para lidar com determinada situação. Isso é o tipo de coisa que aprendemos pouco a pouco quando nos permitimos  ou somos obrigados a  crescer sozinhos.

Quase dezoito anos crescidos como nunca em um mês. A vida é realmente uma coisa muito louca. Sempre queremos nos desprender da sensação que faz parecer como se estivéssemos enfincados na obrigação de seguir tudo rigorosamente como manda o protocolo; Quando somos obrigados sair, ah! meu deus, é angustiante olhar para os lados e não ver as paredes do casulo. 

Mas sempre chega a hora de acordar pra vida.

É preciso crescer sozinho.

- Karla Reis.

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