Karla Reis

Karla Reis

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Sobre mais do mesmo numa coisa só

Eu tinha planejado fazer esse post pro dia do Natal, mas eu estava tão desanimada com a vida aquele dia que acabei por perceber que ninguém pararia o dia festeiro pra vir ler um texto de alguém que ficou em casa. As pessoas gostam de festas e, por mais que reclamem da família reunida e dos tios do pavê que nunca saem de moda, elas ficam felizes somente de estarem ali e pertencerem a um lugar. Eu sei disso, você sabe. Todo mundo sabe.

O que fez com que eu não me sentisse inteiramente atolada na merda aquela noite, é ter a ciência que pessoas no mundo todo tiveram um Natal pior que o meu. E de pensar que algumas sequer têm Natal.

Vou confessar algo: o Natal já fez mais sentido pra mim e pra minha família, diante do que eu vejo. Mas, também, nós nunca tivemos uma árvore com vários presentes embaixo. O máximo estava num tio magro vestindo uma roupa vermelha ma-le-má pra entregar presentes que uns tios davam aos filhos de outros. Sabe como é, né? Aquela bagunça de família grande. Família que vem se desmanchando ao longo dos anos. No dia 25 que conseguimos reunir uma parte mínima do pessoal pra um almoço na casa da vó que tem a velhice gritante nos cabelos brancos presos num coque pequeno, ouvi uma das minhas tias dizer: "O Natal está acabando." O que doeu mais foi a sensação que eu tive d'ela ter exposto um sentimento que eu venho guardando comigo há anos e ver as cabeças ali na cozinha acenando de modo a concordar.

O Natal está acabando pra mim.

Eu nem ligo tanto. Na verdade eu nunca liguei muito pra datas do tipo, porque eu nunca acreditei muito. Nunca tive muita fé. Aliás, eu não sei se sei como é ter fé em algo. Eu sei como é ter medo das coisas. Sei como é gostar excessivamente de algo que está longe; Sei como é ruim se arrepender de ter deixado algo pendente; Sei como é ruim ter tudo na sua frente e não conseguir sentir que é o suficiente, não conseguir se entregar.

Oi. Voltei. Já estamos em fevereiro e, sim, eu tive o desleixo de deixar esse texto (assim como muitos outros) criando teias de aranhas virtuais. Mas esse eu quero terminar, por isso dou as caras aqui às vezes e sei que um dia alguém lerá isso, além de mim. Você, por exemplo.

Não sei por onde (re)começar. Aliás, o ano definitivamente começou. As aulas já estão corridas e eu já estou nervosa pro vestibular, mesmo não tendo decidido ainda o que quero fazer. Mas espero conseguir me dedicar o suficiente pra, bem, aquela história que todo aluno tem predestinada. Né? Sei lá.

Eu tô ouvindo Death Letter EP, do Alexisonfire, que é um dos álbuns favoritos da banda favorita de uma das minhas pessoas favoritas que não deveria ser uma das minhas pessoas favoritas. Só um detalhe.

Pra ajudar, ando bem sentimental. Eu tenho medo dessa parada de crescer, sabe? Pô, esse ano eu completo dezoito anos e, provavelmente, em 2015 muita coisa vai cair ainda mais sobre mim e eu terei que arcar com tudo sozinha. Nos últimos dois anos e meio, eu pensei que fosse capaz de suportar qualquer coisa que viesse, mas agora eu sei que tudo é uma questão de proporção e equivalência. O suportar que eu consigo hoje não é o mesmo suportar que eu precisarei conseguir daqui um tempo. Meu crescimento como pessoa precisa acontecer simultaneamente ao meu crescimento biológico. E eu juro que tento, mas algumas situações e algumas pessoas me desestabilizam e me vulnerabilizam diante de tudo. É uma perda de equilíbrio tosca que eu não consigo evitar.

Mas mesmo assim eu ainda tenho todo o meu jeito careta de ser autossuficiente e não me incomodo nem um pouco com a ideia das pessoas evidenciando o quanto sou orgulhosa e egoísta, pois já me poupei várias vezes da má vontade daqueles que fazem algo almejando a troca. Esses, sim, são os piores egoístas.

Eu não era assim. Se parar pra por no papel o eu antes e o eu agora, nota-se claramente que muita coisa mudou. Eu perdi muito do que eu era e muitos dos que me faziam ser como eu era. Parte disso faz com que eu sinta que acertei em muita decisão tomada, outra me faz balbuciar diante do medo de estar cuspindo direto no prato que eu como. Muitos não percebem isso, mas eu sinto. Eu sei o quão louco é, por exemplo, deitar no peito da pessoa que mais me fez chorar e ainda assim me sentir segura e amada o suficiente pra dormir. Eu sei como é me fragilizar e me render à capacidade persuasiva do ser humano, sabendo o mal que aquilo pode me causar, somente para poder desfrutar do bem que aquilo me traz no momento, ainda que eu seja a única presente de corpo e alma. Sei como é mentir pra não ter que falar sobre o que eu realmente tô pensando e sentindo, ainda que seja pra pessoa com quem eu mais queria poder compartilhar as minhas coisas (e, veja bem, eu aprendi muito com isso). Sei como é estar em dúvida entre me permitir ou não e optar pelo sim, pra depois não me arrepender de ter causado o próprio vazio dentro de mim que tende a aumentar. Sei o quanto é difícil sondar as pessoas e tentar tirar delas somente aquilo que pode acrescentar algo bom em sua vida.

Não trata-se de amor. Trata-se de se sentir bem com o que te fez muito mal. Você entende? Eu não sei explicar...

E é difícil ser o que você é pra alguém que você nunca sabe se te mostra ser aquilo que realmente é. Mas a vida é sobre isso.

É sobre se arriscar e não conseguir encontrar um jeito de compactar aquilo que te faz extravasar diante dos seus próprios limites.

Nos últimos dois anos eu tenho aprendido cada vez mais a controlar essa porra-louca. Até então, era tudo sobre cuidar de quem está perto e me configurar pra'queles que eu queria bem. Não que não seja mais, mas, bem, você entende... É sobre me cuidar, mesmo sendo ridiculamente descuidada. É sobre ser eu e fazer com que as pessoas queiram ficar ao meu lado em função disso, primeiramente. Sabe como é, ninguém vive sozinho. A partir do momento que somos postos nesse mundo, muitas pessoas aparecerão em nossas vidas e a gente apenas tem que conviver e aprender a lidar. Não há algo visível que nos ajude a distinguir quem vale a pena. Trata-se de se arriscar. Por nós. E aprender a lidar não trata-se de mais nada além de saber se recompor e se proteger. Saber se lavar o suficiente quando a merda vier com tudo na sua cara.

E quando você está crescendo, quando o Natal e todas as datas que eram imensamente significantes pra você vão perdendo o impacto e a intensidade, é que cai a ficha de que tudo oscilará cada vez mais e você não tem mais controle sobre seu próprio equilíbrio. Não há mais tempo pra procrastinar. 

A vida é sobre isso. Sobre aquilo que fica do que queríamos que fosse e aquilo que vai do que queríamos que ficasse. É sobre o paradoxo que criamos e nos põe contra nós mesmos.


- Karla Reis.

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