Karla Reis

Karla Reis

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Afadigada

Estava no meio do mofo. Mas não tratava-se de nenhum lençol guardado há mais tempo do que pudera, ou uma casa abandonada com árvores no quintal que viviam somente com o sol e a água da chuva. Tratava-se do que estava abandonado dentro de mim. Os momentos em que eu me pertencia; As horas em que se importava comigo. Deixei tudo isso de lado para perambular sobre uma vida de incertezas que me levaram ao céu e me pisotearam ao mesmo tempo. Uma vida dividida entre dois.

Deixei mofar o amor próprio enquanto moldurava o amor que entreguei à ti. De braços abertos e mãos atadas, recebi de você toda a sutileza e carnalidade de um sentimento límpido e sem maldade. Tive os momentos mais obscuros em meio ao brilho de seus olhos. Deixei vago muitos dos planos que fiz enquanto você dormia. Me reafirmei, me restaurei em meio à enxurrada de sensações que você me causou. Me desfiz da esperança para encarcerar e viver o hoje. Segui o caminho correto mesmo com a tamanha confusão que você me causava. Me impus e você me balbuciou. Acariciei o teu corpo e, enquanto minha face enrubescia, me sentia infinita.

Fomos nós porque conseguimos desatá-los primeiro.

Mas o tempo foi passando e nos enfraquecemos. Não conseguimos suportar. Falhamos. Não soubemos lidar com os opostos que nos atraíram, mesmo sabendo que — talvez — isso era apenas para nos ajudar a manter o equilíbrio. Nos embaraçamos novamente em meio àquilo que nos fez titubear sem querer. Devíamos ter sido mais atentos... Eu juro que tentei desatar os nós outra vez para nos restabelecermos, mas não consegui. A linha que nos mantinha juntos, se não bastasse ter toda sua tenuidade, estava cheia de nós novamente. 

Eis que agora estou ardendo em sua ausência. Desabei e me perdi. Entreguei-me tanto que não consigo me recuperar. Não consigo manter o equilíbrio como quando você estava ao meu lado. Isso está me deixando ociosa, como se eu fizesse, involuntariamente, uma espécie de esforço pra desgastar toda minha esperança. Não espero que você volte; Na verdade, não quero que você volte. A história se repetiria. Quero apenas que me devolva antes que eu termine de mofar.

Estou afadigada por não me pertencer.

- Karla Reis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Let it be!